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De todas as comidas que
experimentei durante toda a minha infância, esta foi a que mais me marcou.
Quando você olha pra este prato depois de pronto, automaticamente pensa em uma
torta, eu a chamo de pizza pois foi assim que a minha avó paterna me apresentou
essa delícia. Ainda me recordo da pia separada da bancada, onde eu me encaixava
e me acomodava perfeitamente para observar com minúcia todos os movimentos
daquelas mãos experientes, que misturavam ingredientes quase sem prestar
atenção, porém, com maestria e certeza de resultados impecáveis. O mais
impressionante dessa receita é que ela só fica deliciosa, na minha opinião, com
sardinhas enlatadas. Já experimentei com carne moída e queijo, frango e milho,
frango e palmito, vegetariana, mas nada nunca se comparou ao sabor das
sardinhas submersas em molho de tomate com queijo minas meia cura. Sua massa é
levemente adocicada, remetendo à possibilidades infinitas de combinações.
Também testei fazer esfirras com essa massa e ficou excepcional, ou seja, não
há limites para o gosto pessoal quando se tem uma base boa que suporte a
enxurrada de sua criatividade.
Eu não havia ao menos tentado
executar essa receita até o ano passado. Minha avó faleceu em 2000, então não
tive a oportunidade de fazê-la para que ela pudesse experimentar, avaliar e me
orientar para corrigir as falhas. Por sorte, minha mãe aprendeu com minha avó,
simplesmente por amar meu pai e fazer o prato que ele também mais gostava,
assim como toda a família. No fim, eu e Caio rebatizamos a receita como Tortza, pois para ele é uma torta e para mim continua sendo a pizza da minha avó.
Ingredientes:
2 ovos
1 copo de leite morno
2 colheres manteiga sem sal (se quiser pode usar óleo de coco).
2 colheres açúcar (eu uso o mascavo ou demerara)
1/2 colher sal
10g de fermento biológico(1 pacote)
Farinha até o ponto (Quando começar a soltar da mão)
Molho e recheio
5 tomates médios bem maduros (4 para o molho e 1 para a
montagem)
3 latas de sardinhas em molho vermelho
4 dentes de alho grandes
200 gramas de queijo meia cura ralado grosso
Manjericão à gosto.
1 ovo para pincelar antes de assar
Modo de preparo da massa:
Modo de preparo da massa:
Misture numa bacia, ovos,
leite, manteiga, açúcar, sal e fermento. Deixe o fermento começar a agir
(borbulhar). Misture com as pontas dos dedos, vá colocando farinha aos poucos.
Quando ver que está grudando pouco na mão (mexa apenas com uma das mãos),
despeje um fio de óleo numa lateral do fundo da bacia e vá passando a massa que
já está quase se soltando na parte que tem óleo, daí passe um pouquinho óleo na
mão pra terminar de soltar a massa tanto da bacia quanto da mão.
Tampe com um pano de prato
úmido e deixe descansar até quase dobrar de tamanho. Unte os tabuleiros e para
abrir a massa, enfarinhe a superfície da bancada, as mãos e o rolo, pois senão
vai grudar em tudo, é assim mesmo, pois se ficar soltinha, a massa fica seca e
difícil de abrir. A parte de massa que forra o fundo do tabuleiro é mais grossa
que a que vai cobrir, esta tem que ser mais fina.
Modo de preparo do
molho:
Nada de usar molho pronto,
cheio de corantes, conservantes e um arsenal de químicos desconhecidos por nós,
e que, sabe-se lá quais os efeitos a longo prazo em nossos organismos. Se já
não bastasse a quantidade de agrotóxicos nos tomates, eu falaria para todos
comprarem tomates orgânicos, no entanto, a crise que assola o país não permite
que todos se deem esse privilégio, e se já passamos tanto tempo consumindo produtos
assim, que seja feio o esforço de diminuir os impactos de agrotóxicos dentro da
cozinha (Eu uso água clorada). Ou então faça uma horta em casa e plante seus
próprios tomates.
Esse molho é meu coringa, eu o
uso pra tudo, na lasanha, na pizza, nas massas diversas e onde
mais ele couber.
Coloque o azeite na panela
ainda fria e adicione os dentes de alho. Ligue a chama e deixe cozinhando em
fogo baixo, adicione os 4 tomates cortados em cubos médios, as folhas de
manjericão e uma pitada generosa de sal. Vá misturando para que os tomates
liberem seu líquido até que comece a ferver, assim que levantar fervura, reduza
para fogo baixo, tampe e deixe cozinhar por 10 minutos, sempre dando uma
misturada para evitar que grude no fundo da panela (a não ser que você tenha
uma de teflon bem conservada). Após 10 minutos de cozimento, desligue e espere
esfriar para então bater tudo no liquidificador ou passar o mixer (se você
tiver um, pode passar ainda quente). Depois de ter batido bastante e ter
um molho de consistência aveludada, adicione as sardinhas para incorporarem ao molho e deixe esfriar completamente
para que não derreta a massa ao montar. (Dica: se seu molho ainda estiver ralo antes de colocar as sardinhas, volte para o fogo para reduzir até
ficar mais seco e cremoso, senão vai acabar com a massa.).
Para montar
Passe óleo na assadeira para
que a massa não grude. Comece abrindo a massa que vai forrar e acomode-a na
assadeira. Passe a faca nas laterais tirando o excesso de massa e espalhe uma
camada média de molho. Agora coloque o queijo ralado e rodelas bem fininhas de
tomate. Coloque as assadeiras de lado e abra a massa que vai cobrir. Assim que
cobrir, tire o excesso de massa das bordas novamente e comece a fechar. Eu costumo
torcer a parte de baixo com a parte de cima, fica parecendo uma trança. Isso
faz com que a massa fique selada e os vapores não escapem, deixando o recheio
com a dose certa de umidade, sem derreter a massa. Agora pode colocar para
assar, o que é bem rápido. Temperatura de 180ºC por 25 a 35 minutos, a depender
do tamanho das assadeiras e da potência do seu forno. Nesse caso eu não me
atenho a tempo, retiro do forno assim que estiver bastante corada.
(Dica: passe por cima um ovo
batido com um pouquinho ketchup e azeite, se não tiver um pincel, pode usar um
algodão que dá certo).
Ninguém vai conseguir comer só um pedaço.
Bom apetite.
João
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